Vão fechar mais três livrarias históricas no centro de Lisboa. Isto é triste, muito triste, e dá-nos vontade de chorar. Com a atualização de rendas impossível de suportar e o consequente despejo por parte dos senhorios, as livrarias Trindade, Campos Trindade e o Centro Antiquário do Alecrim vão fechar portas.

Com mais de 30 anos de actividade, as livrarias vão ter de fechar até setembro. Portanto, tem até lá para fazer uma visita de despedida. Também é uma despedida do comércio tradicional, que desapareceu quase completamente, em nome do capitalismo desmedido, da exploração máxima da nossa capital que virou moda. E não há problema nenhum com o facto de estar na moda - simplesmente, quando virem que já não é uma cidade tão tradicional e com costumes tão enraizados, vai deixar de o ser. E aí, será demasiado tarde.

O carisma está a desaparecer do centro de Lisboa. A nossa identidade, a verdadeira tradição, a cultura. A cidade está vergada a uma única actividade - o turismo. Temos muita pena.

Saibam mais aqui.

O Sr. José é um auxiliar de escrita na Conservatória do Registo Civil. Aqui, encontram-se todos os nomes que existem, existiram e os que ainda não existem também virão cá parar. Os arquivos dos vivos estão paredes meias com os dos mortos e as atribulações principais da vida de cada um estão agrafadas ao comprovativo do nosso nascimento - o casamento, divórcio, e a morte.

Com uma vida simples e monótoma, um magro salário, solteiro, e com uma casa singela mas que divide paredes com a Conservatória, o Sr. José tem um passatempo - ele colecciona os verbetes da vida de alguns famosos. Quando ninguém está a ver, copia os dados do nascimento e de eventuais casamentos de algumas dezenas de pessoas célebres, construindo uma colecção de dados pessoais que é o seu orgulho secreto.

Um dia, quando estava a copiar os dados de um bispo, um verbete veio agarrado a este. Era uma mulher de trinta e tal anos, e o Sr. José determinou que isto não era acaso. Ficou com o nome dela na cabeça e não conseguiu evitar tentar saber tudo sobre esta mulher. Nem o próprio encontrou explicação para esta súbita necessidade e para o desejo assolapado de saber quem era, como estava, o que fazia. Curiosamente, não escolheu o caminho mais fácil - ir à lista telefónica e contactá-la. Pelo contrário, enveredou por caminhos que se tornaram a maior aventura que já havia vivido.

Ele quebrou as leis, invadiu espaços, falsificou documentos, inventou mentiras e desculpas - tudo coisas que nunca havia feito nos seus 50 e poucos anos de vida e que não caracterizavam a pessoa pacata que ele era. Tudo por um nome de uma mulher que lhe apareceu à frente e que tomou conta da sua sanidade.

Saramago é simplesmente um génio. Esta história é trágica, cómica, é bem-humorada, também triste, tem diálogos surreais e fantásticos. O Sr. José é um de nós, um homem trabalhador e obediente que um dia tem uma epifania que tudo muda. Conseguimos facilmente criar laços com a personagem e acabamos a torcer pelo Sr. José como se também a nossa vida estivesse envolvida na sua aventura de investigação. Observamos com humor as conversas que tem consigo próprio, como todos nós fazemos, mas pôr isso no papel de modo natural é a parte difícil que Saramago domina.

A crítica está sempre presente, fulminando como um raio a burocracia, a nossa subserviência cega à autoridade, a rotina e a falta de discussão de ideias e métodos, e ainda nos coloca a divagar sobre a vida e a morte. O ritmo é alto, quase como se se tratasse de um policial, onde está sempre alguma coisa a acontecer e onde o suspense e o mistério também entram, aumentando a nossa expectativa até ao fim.

Acima de tudo, acabamos o livro a pensar exactamente naquilo que o autor queria: sabemos o nosso nome mas não o conhecemos, não fazemos ideia do que ele faz de nós, desde o nascimento à morte.

Todos os Nomes
De: José Saramago
Ano: 1997
Páginas: 280
Editora: Porto Editora

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.
Hoje é o Dia Internacional da Poesia! Um bem-haja a todos os poetas, vivos ou mortos, que contribuem para a beleza da palavra, que cantam a vida e a morte, e a natureza, e o amor, que compõem as mais belas frases, que conjugam, explicam, inspiram! E já que a Primavera também chegou, aqui fica um poema de Alberto Caeiro, "Quando Vier a Primavera".

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
David Kapesh é o narrador desta história - um homem de 62 anos, professor, e conta com uns minutos por semana na televisão nacional. Ora estes minutos de exposição abrem o apetite das suas estudantes vorazes que, no entanto, têm de esperar pelo código moral do professor, que o inibe de estabelecer relações com elas enquanto mantêm uma relação profissional.

Isto não o impede de se divertir à grande, estabelecendo jogos de sedução com as alunas que se babam pela sua notoriedade, inteligência e arrojo. Até aparecer Consuela. Quando a aluna de 24 anos aparece na sua vida ele vê imediatamente que é diferente das demais - a sua postura é madura, carrega uma humildade graciosa, uma beleza natural, uma intrínseca e honesta vontade de agradar sem se degradar e, acima de tudo, tem o melhor par de mamas em que David já pôs a vista em cima.

Este homem, que até então não tinha problemas em coleccionar mulheres e em levar uma vida promíscua sem amarras, vê-se colado à imagem de Consuela e esta passa a habitar os seus pensamentos dia após dia, ao ponto de sentir, pela primeira vez na sua vida, ciúmes.

Nem tudo são rosas e mulheres jovens e bonitas na vida de David. Vamos sabendo mais pormenores da sua vida ao longo da narrativa, como a inexistente relação com o filho de 42 anos. Este nunca perdoou o pai por ter abandonado a família quando ele era pequeno, sob o pretexto de que não conseguia viver com qualquer tipo de amarras. No entanto, agora procura o pai por ter problemas similares... Conhecemos também o seu melhor amigo, com o qual tem um comovente momento lá mais para o fim.

Este é talvez o livro mais arrojado que já li de Philip Roth. É preciso alguma abertura para desfrutar da leitura. Há depravação sexual, são levantadas questões morais, é perverso, tem bastante humor negro, e trata de temas tão diversos e emblemáticos como a revolução sexual, a liberdade individual, a mortalidade, o sacrifício ou a repressão. É, ao mesmo tempo, hilariante e grotesco, revelador e desconfortável.

Dentro desta história cuja superfície é de um professor que gosta de se meter com jovens estudantes, leva-se muito a sério o envelhecimento, as escolhas que fazemos e que são influenciadas por inúmeros factores - e quase nenhum deles é inteiramente nosso -, a luta entre o bem e o mal, que culmina, sempre na nossa morte, na morte do animal, perpetuamente moribundo desde que nasce.

O Animal Moribundo
De: Philip Roth
Ano: 2001
Páginas: 142
Editora: BIS

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.
Um dia, contra todas as expectativas, um cilindro aterra, vindo do espaço. As pessoas juntam-se à sua volta, verbalizam as suas dúvidas e, finalmente, assistem à abertura do estranho objecto. O que vêm sair de lá é algo que nunca viram. São seres vivos, sim, mas não se parecem com nada do que conhecem; não sabem se estão ali por bem ou não, ou qual vai ser a reacção destes estranhos seres que se parecem com uma bola escura e com pouca mobilidade.

A curiosidade do narrador transforma-se em terror quando tudo à volta começa a ser devastado por aquilo a que veio chamar o Raio da Morte, invisível mas mortífero. Não sobrou ninguém para contar a história a não ser ele, que conseguiu fugir. Os corpos amontoados e os arredores em chamas não são suficientes para que, quando chega à cidade, acreditem nele.

Mas mais cilindros descem dos céus, e o povo, primeiro céptico, cedo entra em debandanda quando vêem chegar objectos metálicos com uns trinta metros de altura, suportados por tripés que fazem lembrar trombas de elefante e que destroem tudo à sua passagem. A Inglaterra torna-se pior do que um cenário de guerra (pelo menos numa guerra há a hipótese da vitória), onde todos procuram um lugar seguro para estar e mantimentos para sobreviver mais um dia.

Este livro é simplesmente um pedaço de história. Foi escrito antes sequer de existirem aviões e é de um futurismo assustador. É um dos primeiros livros de ficção científica e é um dos primeiros, senão o primeiro, a falar sobre uma invasão extraterrestre. Criou a primeira visão do que seriam os marcianos, e ainda inspira, nos dias de hoje, o cinema e outras formas artísticas.

Também é interessante ler sobre a invasão marciana nesta história escrita no fim do séc. XIX porque a narrativa é completamente diferente daquilo a que estamos habituados. Os clichés a que estamos acostumados simplesmente não existem. Por exemplo, não haviam telemóveis e mesmo os carros eram raros ou até inexistentes, e é bastante interessante assistirmos ao desenrolar dos acontecimentos e ao conhecimento do narrador através apenas de rumores e conversas esporádicas. Os parcos meios para escapar ao caos e a incerteza de tudo, incluindo saber quem está vivo ou morto, tornam o cenário ainda mais inacreditável para nós, o leitor do séc. XXI.

Não podemos falar neste livro sem mencionar outro facto histórico - quando foi lido por Orson Wells, já em 1938, na rádio, os ouvintes tomaram a narrativa como sendo real e gerou-se o verdadeiro pânico nas ruas. Um apontamento que hoje nos parece surreal mas que marcou a rádio para sempre.

O livro inspirou dezenas de filmes, programas de televisão, de rádio, bandas desenhadas,  jogos e teatro. O primeiro filme data de 1953 e todos devem lembrar-se do protagonizado por Tom Cruise e realizado por Steven Spielberg em 2005.

A Guerra dos Mundos
De: H. G. Wells
Ano: 1898
Páginas: 192
Editora: Verbo

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.


Palavras para quê?

Obrigada por provares que não há impossíveis e que se tu, de todas as pessoas do mundo, tinhas motivos para sorrir e a força da certeza absoluta que tudo é possível , então quem somos nós para duvidar?

Aqui fica uma boa lembrança, como todas as que nos deixou.
Com o humor que lhe era tão especialmente característico e tão inesperado de encontrar em alguém com uma vida tão inevitavelmente séria.

Que todos se recordem do Génio e do Homem.

É ou não é? 😛


"O Velho e o Mar" de Ernest Hemingway é um marco literário inegável. Primeiro, pela sua simplicidade;  segundo pelo simbolismo da sua narrativa. Santiago, o velho e solitário pescador cubano, entra mar (d'alma) a dentro nos nossos corações como que nos relembrando de lutas que ainda estão por vir mas que certa e inevitavelmente virão. 

Esta fantástica obra existe em versão novela gráfica, numa banda desenhada nascida da adaptação livre da obra de Hemingway, pelas mãos de Thierry Murat. Apenas recentemente tive conhecimento desta edição e logo procurei saber mais, acima de tudo porque sempre me nasceu a curiosidade sobre se a forma como imagino as palavras, as imagens literárias, é semelhante à de outras pessoas. Será que sonho as frases de forma diferente? Será que todos vivemos o mesmo filme mental quando lemos uma determinada obra?

Na proximidade do Dia do Pai, esta é uma excelente ideia de oferta: uma forte adaptação visual de uma das obras mais reconhecíveis da literatura mundial. É de aproveitar que a novela gráfica encontra-se em promoção no site Wook.pt e com portes grátis. Com uma obra desta qualidade, não há como falhar na prenda. Imperdível.

Um pouco mais sobre o título nesta notícia do Diário de Notícias.


Rasgo de Sol em tempestades,
é o que tu és.
Raízes de árvore que não cede,
apenas tolda para dar os seus frutos,
é o que tu és.

Se te imaginas fraca,
como se de ti tivessem tirado à força
os filhos, o futuro,
não chores.
És a força dos rios e esses seguem sempre
em frente, no seu caminho,
tal como tu, até ao mar que te espera.

Nesse mar serás peixe, serás alga,
e a espuma das marés.
Serás o sal que seca na pele.
É isso que tu és. 
O sal, o sabor,
a textura de tudo o que é, foi e será.

De ti tudo nasce, em ti nada morre,
nada se esquece, tudo se vinca,
como as noites mal dormidas a tratar dos teus.

Em ti tudo floresce, tudo brota, de ti tudo vem,
és a Mãe, a Filha, a Servente e a Rainha.
És tudo Mulher, por isso nunca te faças nada,
por que sem ti nada será.

Vai.
Agora.
Sê muito,
sê tudo,
sê Mulher.

O Tyrion é um espirituoso no Game of Thrones, mas o actor que lhe dá vida não fica atrás ;)



Bruce Delamitri é um famoso e talentoso realizador de Hollywood, conhecido pelos seus filmes violentos, sádicos, crus e negros. Ele é muito confiante e seguro de si e vai ter de usar toda a sua sapiência e paciência nos constantes ataques de que é vítima, especialmente por parte da comunicação social, que frequentemente o acusa de inspirar a violência.

Quando um casal começa a matar indiscriminadamente pessoas em centros comerciais, logo começam as comparações com os filmes de Bruce e a discussão sobre a violência no cinema vem ao de cima, colocando-o debaixo de fogo. Defendendo que os filmes são um reflexo da sociedade violenta e não o contrário, ele vai gastar o seu latim a tentar explicar a sua visão.

Na noite de entrega dos Óscares, todos os holofotes apontam para Bruce. No entanto, uma noite de festa está prestes a transformar-se em tragédia quando os Assassinos dos Centros Comerciais entram em acção, preparando-se para a carnifina mais mediática das suas carreiras de matança. Entrando numa espiral caótica de uma confusão sem precedentes, a vida de Bruce e dos seus mais próximos está prestes a mudar para sempre.

Adorei este livro. Para além da narrativa fantástica, da história mirabolante e da acção constante, é bastante inovador no modo como é escrito. Por exemplo, a prosa por vezes é entrecortada por partes de um guião, como se a história que estamos a ler fizesse parte de um filme, com descrições sobre o set, os actores ou o ambiente, com pormenores das perspectivas das câmaras, exactamente como se estivessemos a assistir às filmagens. Isto é uma completa lufada de ar fresco no modo de ler.

Para além disso, a crítica à sociedade é uma constante, abrangendo o modo como a comunicação social manda nas nossas vidas e nos influencia e molda. O glamour de Hollywood também é posto à prova, mostrando uma comunidade de aparências e superficialidades. Acima de tudo, o livro explora uma sociedade em que a culpa nunca é de ninguém, em que as responsabilidades são sacudidas por egos cada vez maiores que se preocupam apenas com eles próprios.

Ben Elton é comediante e isso também está patente nas páginas do livro. É violento, sim, mas é muito engraçado. Com um humor negro requintado, irónico, este é um dos livros que mais me entreteve e fez rir, com situações a roçar o ridículo, sem no entanto se desviar assim tanto da realidade.

Popcorn
De: Ben Elton
Ano: 2003
Editora: Livros do Brasil
Páginas: 254

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.
Paulo Coelho dá-nos um relato da vida de Mata Hari, na primeira pessoa. Dividido em três partes, o livro agarra-nos logo à partida começando com a sua execução, após ter sido condenada à morte por ser considerada uma espia.

A segunda parte é uma carta da própria para o seu advogado e é aqui que se encontra todo o sumo. Ficamos a saber de onde veio, por onde passou, até ter chegado a Paris sem absolutamente nada e como se tornou uma figura importante, uma das mulheres mais desejadas e invejadas da época. Dançarina exótica, amante de homens importantes, na vanguarda da moda, Mata Hari foi seguramente um espírito demasiado livre para a época em que viveu e pagou o preço por isso. Num ambiente tenso que precedeu a primeira guerra mundial, ela lucrou, enfrentou intempéries e, mais do que tudo, fez pela sua própria sobrevivência.

É uma história de vida incrível, de uma mulher incrível. Se ela tivesse vivido nos dias de hoje o seu fim teria sido outro, e a própria sabia isso. Vítima das circunstâncias, apanhada pela sua própria desenvoltura, o seu destino soa a injustiça - decidido por aqueles que não a conseguiam acompanhar e compreender.

A terceira parte é a resposta do advogado (também ele um antigo amante) quando já se sabia que ela ia ser executada. Não é um capítulo tão emotivo e emocionante, é quase burocrático. Pela parte que me toca, não era necessária esta visão. Dá-nos algumas respostas, mas podiam ter sido introduzidas de outra forma.

No geral, gostei bastante do livro. Tenho mixed feelings em relação ao Paulo Coelho, mas até costumo gostar dos seus livros menos fantasiosos e com os pés mais assentes no chão, como é o caso. Escrever sobre uma das mais conhecidas mulheres que marcou o início do século XX é difícil e fácil ao mesmo tempo - a vida dela é do mais interessante que pode haver e há muito material para nos deixar abismados; no entanto, a "arrumação" da informação, a pesquisa, a organização do trabalho, e a voz a usar não são nada fáceis de desencantar, e nisso acho que Paulo Coelho acertou. O livro é também acompanhado de algumas fotografias marcantes.

A Espia
De: Paulo Coelho
Ano: 2016
Editora: Pergaminho
Páginas: 184

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook.
Em Ancara, na Turquia, os homens responsáveis pela recolha do lixo começaram a guardar os livros que por lá encontravam. A ideia era que fossem para uso próprio e das suas famílias, mas a quantidade começou a aumentar e várias pessoas começaram a participar, e com o apoio da Câmara, os livros que estavam destinados a um triste fim têm uma nova vida numa antiga fábrica de tijolos.

À medida que o projecto foi ganhando notoriedade, várias pessoas foram entregando livros aos funcionários da câmara, e a biblioteca, que abriu em setembro, já tem uma colecção com mais de 6.000 livros.

O lugar dos livros não é no lixo - é longe dele. Não compreendo as pessoas que são capazes de os jogar fora. O lixo de uns é o tesouro de outros. Este caso teve um final feliz devido à lucidez e vontade destes funcionários que estão de parabéns. Se tiver livros que já não quer entregue-os na biblioteca municipal mais perto. Mesmo que estejam em mau estado, eles recuperam o melhor que podem e passam a estar disponíveis para outras pessoas, a quem possam inspirar e fazer companhia como já fizeram a si.

Outra hipótese é doar os livros a instituições juvenis, seniores, e outras; e ainda outra, é dá-los a projectos de caridade que façam rifas ou feirinhas para angariar dinheiro. Lembre-se: nada se perde, tudo se transforma!

Notícia aqui.



Ethan foi raptado quando tinha 7 anos. Brincava com o irmão mais novo à frente de casa quando um carro preto com dois homens parou e o levou. 9 anos depois, Ethan finalmente reaparece.

Ficamos a conhecer a sua história - foi criado por uma mulher como se esta fosse a sua mãe, que lhe deu tudo durante anos mas quando não conseguiu suportar financeiramente o "filho" o deixou numa instituição. Passado um ano, Ethan conseguiu fugir de lá e tornou-se um sem-abrigo. Tendo acesso a uma biblioteca devido à bondade do bibliotecário, descobriu-se a si próprio num site de crianças desaparecidas e voltou à sua família, para quem, compreensivelmente, foi tudo um grande choque.

O regresso à família foi tudo menos pacífico. Blake, o seu irmão que o viu entrar no carro, guarda graves ressentimentos por ele. Primeiro, porque não compreende porque é que entrou no carro de estranhos; e segundo, porque a partir do seu desaparecimento é como se ele próprio tivesse deixado de existir. A vida da família passou a girar em torno do desaparecimento de Ethan e Blake sentiu-se diminuído no meio da tragédia.

Gracie é a irmã mais nova que nunca chegou a conhecer e que veio preencher o vazio criado por si. Sendo um completo estranho para ela, a explicação sobre quem é e porque é que apareceu, porque é que vai morar naquela casa, ocupar um lugar à mesa, vai ser uma tremenda adaptação.

A relação com os pais também não vai ser fácil. Todos deixaram de se conhecer e é tudo uma novidade. Ethan passou por muito e os pais não sabem lidar com isso. A sua personalidade de quase adulto está formada e trata-se de acolher um estranho dentro de portas e lidar com os atritos entre irmãos, que se vão tornando cada vez maiores.

Ethan sofre - porque não consegue lidar com toda a atenção da comunicação social e da comunidade; porque, depois de ter vivido nas ruas vai ter de se habituar tanto às paredes que o afligem como às regras de viver em família; e principalmente porque não se consegue lembrar de nada da sua infância. Todos lhe perguntam se ele se lembra disto e daquilo, das idas à gelataria, das aventuras de trenó, das brincadeiras, mas a sua mente está completamente bloqueada. Numa fase inicial, pensa-se que tal se deve ao trauma por que passou, mas vai-se descortinando que é muito mais do que isso, culminando num final surpreendente.

Este livro, apesar de categorizado para um público juvenil, é adequado para todas as idades. Gostei bastante de o ler, tanto pela temática interessante como pela estrutura da narrativa, que tem muito de misteriosa e que nos prende até ao fim. Contado pela voz de Ethan, que é um adolescente, a sua linguagem é simples mas nunca simplista. As partidas da mente, as relações familiares, os traumas, a amizade, são aqui expostos, atingem-nos e não nos deixam indiferentes.

Morto Para Vocês
De: Lisa McMann
Ano: 2010
Editora: Everest
Páginas: 256

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.