Susan Fletcher está à frente do departamento de criptologia da NSA (National Security Agency) e num sábado recebe uma chamada devido a uma emergência no trabalho. Uma vez na NSA, o seu director, Strathmore, conta-lhe algo que sempre pensou ser impossível: o descodificador mais poderoso do mundo, que interpreta todas as comunicações digitais codificadas, mesmo as mais difíceis, em questão de segundos ou poucos minutos, encontrou um código que não consegue descodificar.

Strathmore conta-lhe ainda que sabe a origem deste código impossível: um brilhante ex-criptógrafo da NSA, que se interpôs contra a empresa defendendo o direito de todos à privacidade online, e portanto atacando aquele descodificador universal, arranjou aquela forma de se "vingar". Assim, criou aquele código impossível com o objectivo de vendê-lo à melhor oferta, ameaçando a capacidade da NSA de continuar a decifrar e a manter segredos sobre tudo e todos.

Para complicar tudo, esse ex-criptógrafo apareceu morto em Espanha nessa mesma manhã - antes de poder dar a chave para libertar o ficheiro e fazer desaparecer a ameaça. Strathmore conta com a ajuda de Susan para entrar na mente do falecido e dar a volta àquele código.

Isto é apenas o início dos inícios, e vou abster-me de contar mais desta história porque não iria conseguir parar - cada pequeno evento dá origem a centenas deles e não iria parar de enunciá-los para fazerem sentido.

Costuma dizer-se que ler Dan Brown é sempre a mesma coisa, e em nenhuma das vezes conseguimos pôr o livro de lado. Foi mais ou menos isso o que se passou comigo neste livro. Não lia Dan Brown desde a adolescência e é exactamente assim que me lembro da sua escrita - decorrendo a um ritmo vertiginoso, sem tempo para respirar, com reviravoltas atrás de cada página e com suspense até ao fim. Só que os voltefaces são tantos que uma pessoa já consegue imaginar o pior cenário possível logo à partida, e que, no meu caso, acabou por se verificar e eliminar o elemento surpresa.

A meu ver, há demasiados pormenores que tornam este livro inverosímil e outros tantos desnecessários que tornam os diálogos e as situações absurdas. A minha pontuação é positiva pelo talento do autor em manter o suspense - nisso poucos o batem. Dei por mim já desinteressada do assunto mas a querer saber na mesma o que se passa a seguir. É talvez o livro mais fraco que li do autor.

Fortaleza Digital
De: Dan Brown
Ano: 1998
Editora: 11x17
Páginas: 576

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook.
Olhem que ténis mais lindos para os leitores. Já que ando sempre de livro na mão, era lindo andar também com eles nos pés. Não são baratos, mas fica registado que o meu número é o 36. Não se acanhem!


Se mora em Coimbra ou se vai passear por lá este sábado dia 27 de janeiro, aproveite para fazer parte da iniciativa Feira do Livro Dado, pela Casa da Esquina.

A ideia é levar os livros que já não quer e trocar por outros. Para além de proporcionar novas leituras a todos, sem custos, é uma excelente forma de aumentar o tempo de vida dos livros.

Serão livros de todos os géneros - ficção, livros técnicos, banda desenhada, livros infantis... - e para todas as idades, que poderá trocar na Casa da Esquina, no dia 27 de janeiro, entre as 10h00 e as 19h00.

Consulte o evento no Facebook.



Os movimentos #TimesUp  e #MeToo têm dado muito que falar nos últimos tempos. A defesa dos Direitos das Mulheres (palavras capitalizadas pelas vozes que se erguem ), exposta e publicitada nas redes sociais e restantes meios de comunicação, está a abalar os pilares de Hollywood. Igualdade, respeito, honra, valorização, reconhecimento... palavras que já deviam andar lado a lado com a palavra Mulher começam agora a ser bastiões da mudança em direcção a uma sociedade mais completa e equilibrada.

Por isto, não haverá melhor momento do que este para ler (ou reler) "A Letra Escarlate" de Nathaniel Hawthorne. Um dos maiores clássicos da literatura e que nos conta a história de Hester Prynne, uma mulher que é condenada a usar a letra "A" escarlate no peito como pena por ter cometido adultério. Hester está grávida mas recusa-se a dizer quem é o pai e por isso carrega sozinha nos seus ombros o peso da vergonha e no seu peito a marca do pecado.

Nathaniel Hawthorne leva-nos a Salem no século XVII e a uma sociedade puritana e colonial onde qualquer desvio social era um pecado merecedor da maior humilhação. Hester foi ostracizada, juntamente com a criança que nasceu do adultério, Pearl. Ao longo da narrativa assistimos à luta de Hester em defesa da réstia de honra que a humilhação social não lhe roubou, enquanto a sua filha cresce no seio do estigma social de ser o fruto do pecado. Haverá esperança de redenção? Será que algum dia vão parar de apontar dedos cheios de ódio alimentado pelo extremismo religioso? Já alguém sábio contava que "o inferno são os outros"...

Pode dizer-se que Hester nasceu na pior das épocas no que diz respeito à desigualdade de género e preconceitos sociais, mas a verdade é que, apesar das conquistas feitas ao longo da história, ainda  e tristemente conseguimos ver tanto de actual na sua vida que parece que o tanto que mudou ainda está longe de ser o bastante. 

As mulheres continuam a temer represálias sociais se disserem que foram assediadas por homens poderosos e eloquentes, tal como Hester temeu acrescidas represálias quando lhe foi pedido para confessar quem era o pai da criança. No entanto, tal como Hester, chegou o momento das mulheres recusarem as imposições sociais e os julgamentos. Chegou o momento de fincar o pé e subir o tom de voz para que se saiba que acabou o tempo das humilhações e do medo.

Juntem-se as vozes, o silêncio acabou.

Letra Escarlate (eBook The Scarlet Letter)
De: Nathaniel Hawthorne
Ano: 1850 (edição 2015)
Editora: Wisehouse Classics
Páginas: 161
A nossa pontuação: ★★★★★

Disponível em eBook gratuito no site da Amazon




Eu. Praia. Sol. Areia... E vento... Uma pessoa já tem os bracinhos dormentes de segurar o livro, pouso-o e eis que uma rabanada de vento vem e lá avançam as páginas sem pedir licença.

Mas agora que vi esta coisa portátil que mantém o livro aberto, a minha vida mudou! Que jeitaço! Uma coisa tão simples! Porque é que só o descobri agora?



É imensamente difícil escrever sobre viagens, tornar a nossa experiência uma experiência para os outros, muitos que nunca lá estiveram. Que só conhecem aquilo de que estamos a falar das fotografias das revistas ou de reportagens esporádicas. Ou nem isso. É difícil interessar o leitor por ruas e por cheiros que ele nunca viu ou sentiu, mesmo que a curiosidade seja aguçada, e prendê-lo num livro inteiro.

Mas estamos a falar do José Luis Peixoto. Se há alguém que consegue, é ele. E conseguiu. Comecei a medo. Temia que a narrativa que aborda as suas viagens à Tailândia me deixasse distante, mais distante do que os quilómetros que nos separam daquele país. Foi devagarinho, mas fui mergulhando mais e mais, até não restar nada de mim à tona. Nunca pensei.

Não é uma viagem com princípio, meio e fim. Não é uma mera descrição das pessoas e das coisas. É a maneira como ele tudo vê, o modo como partilha - como se fosse nosso amigo íntimo - é um diário de pormenores impensáveis. E não é só Tailândia, absolutamente. É encontrar a cada esquina um laço que abre uma porta para algo que se passou na infância, no Alentejo, ou na adolescência, nas primeiras cervejas no Bairro Alto. É uma passagem por Las Vegas; ou algo que o faz lembrar os filhos, ou a mulher, ou a mãe, ou o pai.

Não esperava gostar tanto deste livro. Não esperava aprender tanto, emocionar-me tanto. Sim, é uma viagem, mas é uma vida inteira. E um caminho, que tal como nos é dito no início, que também faz parte da viagem. Que ainda não acabou.

O Caminho Imperfeito
De: José Luís Peixoto
Ano: 2017
Editora: Quetzal
Páginas: 192

A nossa pontuação: ★★★★★
Disponível no site Wook.


... fica a vontade de ficarmos aninhados no sofá a ouvir a chuva e a ler um bom livro enquanto o cheiro do café quente nos aquece a alma.

Ambientada nos anos 40, na América provinciana, a narrativa conta os 22 anos de vida de Lucy Nelson. Conhecêmo-la em pequena, no seio de uma família pouco funcional onde o pai é álcoolico e pouco presente e a mãe permissiva e fraca. Moram na casa dos avós de Lucy, e durante anos ela vê também o avô tudo perdoar ao seu pai, dando-lhe novas oportunidades vezes sem conta, prolongando o sofrimento de todos.

Lucy cresceu neste ambiente e a sua tendência é para achar que todos os homens necessitam de "intervenção", desconfiando sempre das suas acções e motivações. Quando conhece Roy, por quem tem uma paixoneta, esses sentimentos afloram e fazem-na acreditar que ele não é nem nunca será um homem a cem por cento.

No entanto, antes de conseguir dispensá-lo da sua vida, engravida. E aí a sua maldição começa, ao ver-se presa a um homem que não respeita, e à família dele, que passa a odiar, com todas as suas opiniões descabidas e as diferentes formas de se meterem na sua vida e dizer-lhe o que fazer.

O casal tenta levar uma vida normal, mas a raiva crescente de Lucy para com o mundo, que se materializa contra o marido, impede-os de ser felizes. Ela torna-se insuportável, impertinente, agressiva, como se todos os problemas do mundo lhe pesassem nos ombros e fossem culpa dos homens da sua vida.

Esta é uma das melhores construções de personagem que já li. Temos tudo, desde o seu background, passando por todos os pormenores que faziam antever a sua personalidade até ao descambar total de uma agressividade fora de série. Tudo isto feito de forma muito subtil, e só no fim nos questionamos como é que aquela pequena se tornou naquela mulher odiosa.

É uma história dramática, realista, sem artifícios, baseada nos sentimentos mais crus do ser humano. O nosso sentimento também muda - ao início sentimos a pena, a comiseração pela vida daquela miúda, mas quando acabamos o livro tudo isso ficou no passado. A escrita brilhante de Roth tem essa magia, e está a tornar-se rapidamente num dos meus autores favoritos.

Quando Ela Era Boa
De: Philip Roth
Ano: 1966
Editora: Dom Quixote
Páginas: 360

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.
Bom dia!😁



O narrador é Jeremiah Salinger, um autor de documentários, que se muda de Nova Iorque para as montanhas do Sul do Tirol, onde a esposa cresceu, com esta e a filha de 5 anos.

Depressa o ambiente das montanhas o afecta e inspira, e mete-se num projecto para documentar uma equipa de resgate e ajuda. Até ao dia em que um grave acidente acontece, e Salinger, vendo-se no meio da embrulhada e sentindo-se culpado, sofre de stress pós-traumático e nunca mais será o mesmo.

No entanto, e como o seu espírito curioso nunca adormece, depara-se com a informação de que um crime muito violento aconteceu naquelas montanhas há 30 anos, e que nunca foi resolvido. Salinger agarra-se a este mistério como se fosse uma tábua de salvação para o seu estado quase catatónico e começa a investigar por conta própria. Não é que ele tivesse esperanças de resolver um crime que ninguém conseguiu resolver em 30 anos - mas viu naquela história mal contada e em aberto um óptimo tema para um documentário e essa esperança foi tomando forma.

À medida que vai fazendo perguntas e visitando locais-chave, Salinger vê crescer uma animosidade à sua volta, como se estivesse a violar a vida de toda a gente. Como se fosse apenas um estranho, e não o marido de uma filha da terra e genro de uma figura importante por aquelas paragens. Conforme vai avançando, são mais e mais os obstáculos que enfrenta, o que o apavora, por si e pela família, mas que também lhe dá vontade de entrar no cerne da questão. E, como veio a verificar, naquele tema, uma vez que se entra, não há porta de saída.

Neste livro aconteceu-me algo que não me lembro de ter acontecido antes - o meio foi a minha parte preferida. O início custou mesmo a arrancar e estava prestes a abandonar o livro quando de repente se tornou interessante. A apresentação das personagens, a sua juventude, o que fazem na vida, o que as fez mudar para as montanhas, ocupou uma parte substancial da narrativa, um pouco exagerada na minha opinião. Não era preciso tanto.

Chegada ao sumo, adorei o modo como aquele homem atormentado se agarrou a uma ideia, a um enigma por resolver, para esquecer o negrume que se passava na sua mente, e como isso passou a ser a sua obsessão. Apesar de a família nunca lhe sair do pensamento, esqueceu as suas prioridades, arriscou a vida, em nome de um mistério que não era o seu. E esta foi a minha parte preferida.

Quanto ao desfecho, bem, há algumas voltas e reviravoltas interessantes mas também, na minha opinião, um tanto ou quanto exageradas. De qualquer forma é um thriller muito interessante que me conseguiu prender apesar do soluço inicial e que me despertou a curiosidade sobre o autor italiano.

A Substância do Mal
De: Luca D´Andrea
Ano: 2016
Editora: Suma de Letras
Páginas: 456

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook.
Ao regressar ao trabalho neste novo ano, o sentimento é este... Posso?