Um Dia Sonhei Que Voava - Taichi Yamada

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Taura é um homem japonês de meia-idade com um trabalho aborrecido que um dia vai parar ao hospital. Durante essa estadia, acontece um acidente nas imediações do hospital e vão lá parar dezenas de feridos. Por questões logísticas, pedem-lhe então que divida o quarto com uma paciente, e acede. O quarto da mulher tem uma divisória e os dois, impossibilitados de sair da cama, não se vêem. A conversa vai surgindo e tornando-se íntima, até que se torna "demasiado" íntima. A mulher desafia-o para um jogo de sedução e têm uma experiência sexual sem se tocarem ou verem.

No dia seguinte, as enfermeiras vão buscar Taura e removem a divisória. Ele vê então que a mulher é uma velha. Apesar do momento ser fugaz, vê-lhe os cabelos brancos, as rugas, e sente-se enojado e enganado por se ter deixado levar por aquela mulher. Só quer esquecer o assunto e nunca mais a ver.

Passados uns meses, reencontra-a mas não quer acreditar no que os seus olhos vêem. Aquela mulher, Mutsuko, está à sua frente, a voz é a mesma, sabe tudo o que se passou, mas está na casa dos 40 anos. É impossível. Tem de ser uma impostora. Alguém da família, uma filha com voz similar. Mas Mutsuko prova-lhe que é mesmo ela. Taura sente-se extremamente atraído por esta mulher, esquece-se da sua própria família, do trabalho, das responsabilidades, para estar com ela e assistir àquilo que é impossível de acreditar e de explicar: Mutsuko está a regredir na idade a olhos vistos e cada vez mais rápido. Até quando? Os dois experienciam uma história de paixão assolapada, ainda mais fogosa por se desconhecer o que o futuro reserva a Mutsuko.

Se esta história vos faz lembrar o filme "O Estranho Caso de Benjamin Button", não se admirem porque a mim também, mas pelo que pude apurar não têm qualquer relação. Talvez o livro tenha servido de inspiração, ou foi mera coincidência. Deixando esta vã comparação de lado, este livro é absolutamente fantástico. Criamos laços com estas duas personagens desde o início ao fim e é impossível não lhes sentir afinidade e não partilhar a sua dor e as suas dúvidas. A narrativa é rápida, tem bastante acção, mas também momentos de contemplação, profundidade, e com uma moral sempre intrínseca, o que resulta num equilíbrio perfeito.

Gosto mais do título da edição em inglês - I Haven't Dream of Flying For a While, muito menos directo e mais dado às asas da imaginação, como o livro. Esta é uma história de amor, de desejo, de perda, com um grande poder espiritual como só os autores asiáticos conseguem incutir aos seus escritos. O autor, hoje com 82 anos, é guionista, e sabendo isso nota-se perfeitamente a mestria visual que nos impõe através das palavras. Já era fã depois de ler "Desconhecidos", agora fiquei ainda mais.

Um Dia Sonhei Que Voava
De: Taichi Yamada
Ano: 1985 (reedição de 2008)
Editora: Livraria Civilização
Páginas: 188

A nossa pontuação: ★★★★☆

Disponível no site Wook.

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