O Jogador - Fyodor Dostoyevsky

, , 2 comments

Alexey Ivanovitch é o jovem perceptor dos filhos de um general russo que se encontra com bastantes dívidas. O general espera casar brevemente e receber uma herança para continuar a prosperar. Tem uma sobrinha, Polina, pela qual Alexey está loucamente apaixonado, mas não é o único - vários homens ricos pretendem desposá-la, o que também poderia representar um alívio financeiro para o general.

O general, Alexey e a restante família e amigos próximos encontram-se na Alemanha, numa área que fica terrivelmente perto de casinos. Terrivelmente, porque Alexey já teve problemas com o jogo no passado e receia perder a cabeça e apostar o pouco que tem na roleta. Quando Polina lhe pede para arriscar uma considerável soma no jogo para poder pagar dívidas, Alexey luta com sentimentos contraditórios - o bichinho do jogo que vive em si quer arriscar, mas teme perder, e ainda por cima não se trata do seu dinheiro.

A insistência da sua amada acaba por ganhar e Alexey vê-se novamente na mesa de jogo, e a sentir o que outrora sentiu - uma ganância que o faz querer mais e mais, uma cegueira que o impede de ver quando deve parar, um isolamento do que se passa à sua volta e das vozes que o aconselham, uma loucura inexplicável e uma desilusão tremenda quando as coisas não correm de feição.

Este é um clássico incontornável da literatura, mas não é o meu livro preferido de Fyodor Dostoyevsky. As partes da narrativa sobre o jogo são soberbas, e para isso contribuíu o facto de o próprio autor ter sido viciado no jogo. Aliás, este livro foi escrito com o objectivo de pagar precisamente dívidas de jogo. Ninguém melhor para descrever o que sente um jogador e para nos transmitir a alienação, a alucinação e o alheamento relacionados com a experiência.

No entanto, na minha opinião, a restante narrativa foi vítima desta pressa do autor, visto que se debruça de um modo desnecessário sobre outras temáticas, nomeadamente a sua paixão por Polina, que nunca chegamos a perceber muito bem e porque é que tem tanto tempo de antena; ou a existência de outros personagens que não chegam a contribuir significativamente para a história.

Há também momentos mais satíricos, cómicos e de boa disposição, sendo um dos pontos altos, para mim, o aparecimento da velha senhora 'generala' a quem todos chamam "Avó", que tem uma grande fortuna e estão todos a contar com a mesma quando ela morrer, e no entanto ela "decide" não morrer tão cedo e, para além do mais, vicia-se também ela na roleta. É engraçado assistir à crescente preocupação dos seus descendentes à medida que o dinheiro vai voando na mesa de jogo.

Um livro que é acima de tudo um olhar sobre a auto-destruição e sobre a maneira como o vício pode corromper uma alma, que teve inúmeras adaptações, seja para cinema, televisão, rádio, entre outras.

O Jogador
De: Fyodor Dostoyevsky
Ano: 1866
Páginas: 168
Editora: Editorial Presença

A nossa pontuação: ★★★☆☆
Disponível no site Wook.

2 comentários:

  1. Quando passei a partilhar a banda desenhada com a Literatura gostava imenso de ler os escritores russos (finais de 60, com a idade a entrar nos dois digitos) e recordo-me que este foi o primeiro livro que li do escritor, que viria a ser perdido na "espuma dos dias", mas que recentemente voltei a comprar e a ler e gostado imenso de recordar este jogador.
    Muito boa tarde!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É daqueles que vale muito a pena ter na prateleira :) Agora quero reler Crime e Castigo, já li há demasiado tempo. Bom dia e obrigada pela visita!

      Eliminar