O Complexo de Portnoy - Philip Roth

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Este é talvez o livro mais conhecido de Philip Roth e é talvez aquele que menos consenso reúne. A verdade é que não é um livro fácil. Todo o livro é um monólogo, extenso, embora hilariante, de Portnoy enquanto paciente num divã de psicanálise.

Pese embora o longo discurso sobre si próprio, a narrativa é tudo menos linear. O modo como está escrito faz com que consigamos imaginar totalmente este homem a desabafar e o ênfase que dá a cada verbalização, como se estivesse a falar connosco. Sabemos perfeitamente quando está calmo e nostálgico, depressivo ou entusiasta simplesmente pela cadência das frases, pela pontuação ou linguagem, e isto só um escritor brilhante sabe fazer.

O arrojo do autor não se prende somente com esta forma arriscada de escrever, mas também pelo tema. Alexander Portnoy é um judeu cuja sexualidade está virada do avesso, e ele culpa a mãe. Culpa o seu zelo excessivo, a sua exigência para que ele fosse perfeito, os ensinamentos descabidos, a pressão sem limites. Culpa-a por ter feito com que o seu único escape, enquanto adolescente, fosse uma masturbação tão desenfreada que o próprio tinha medo de provocar cancro com tanta fricção. E sim, usava a roupa interior da mãe e da irmã para o efeito.

E se Alexander é agora um trintão solteiro que só pensa em rodar mulheres, que fica louco com a visão de todas as mamas disponíveis no mundo e que não tem nenhuma vontade de escolher apenas um par delas e assentar, é porque a mãe o pressiona nesse sentido, porque a sua família deturpou a imagem familiar, porque lhe impuseram restrições, porque quiseram escolher a sua vida por ele.

A linguagem é completamente sem filtro - com direito a bolinha vermelha ao canto. Não deixa de ser um texto sério, o relato de uma mente deturpada e com todo o contexto político e social na América judaica que ainda sente a sombra das atrocidades da guerra. Como tal, é um livro muito à frente do tempo, com uma sinceridade e liberdade que quase comovem. E, claro, é muito cómico, não podia ser de outra forma com uma premissa destas.

O Complexo de Portnoy
De: Philip Roth
Ano: 1969
Editora: Dom Quixote
Páginas: 272

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.

2 comentários:

  1. Philip Roth é genial e este é um livro para se ler na tranquilidade do lar e não nos transportes públicos, um hábito que tenho que também me ajuda a fugir da pessoa que se senta ao meu lado e procura um pretexto para conversar. Um excelente livro para se enviar à Academia Sueca!
    Bom fim-de-semana!

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    1. Pode crer! Não sei como ainda não ganhou o prémio, devem estar à espera que morra :/ adoro-o, ainda não lhe li nada de que não gostasse. Obrigada pela visita e bom fim de semana :)

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