O Bom Inverno - João Tordo

, , No Comments

O narrador é um escritor frustrado e hipocondríaco, que usa uma muleta para apoiar uma perna que diz doente mas na qual nenhum médico consegue descortinar problemas. O seu insucesso, dores e isolamento fazem de si uma pessoa amarga e que pouco se aventura fora das portas do seu apartamento. Quando surge o convite para participar num evento literário em Budapeste, acaba por aceitar devido à precariedade das suas economias, embora fazer uma viagem seja a última coisa que lhe apeteça.

Lá, acaba por conhecer um escritor italiano mais jovem, Vincenzo, enérgico, cheio de ideias, que o arrasta pela noite da cidade e que o apresenta às suas amigas Olivia e Nina. Vincenzo tem uma ideia fixa que é visitar a casa de Don Metzger, um imponente produtor de cinema que se inspira em livros. Através da influência do pai, Vincenzo conseguiu fazer-se convidado para a casa de campo do produtor no meio de um isolado bosque italiano, enigmaticamente denonimada de Bom Inverno.

Sem saber muito bem como, mas sobretudo devido à insistência sem fim de Vincenzo e à curiosidade que se foi aguçando, o narrador é convencido a acompanhar o grupo até Itália. Os quatro começam então uma aventura rumo ao quase totalmente desconhecido. Chegados à casa do produtor, que se encontra ausente, conhecem várias pessoas ligadas à indústria e que aproveitam as regalias oferecidas pela casa de Don Metzger - o vinho e o champanhe, a comida, a casa moderna, o fabuloso lago, os sons do frondoso bosque.

A relativa paz termina quando, no fim de uma primeira noite de muitos excessos, Don Metzger finalmente aparece, mas morto. O seu empregado e amigo Bosco, presença imponente e ameaçadora, faz de si próprio justiceiro e quer ver morto quem cometeu o crime. Ele espera respostas, e se não as tiver, vai eliminando os presentes, um por um. Ensombrados pela ameaça, petrificados pela sombra da morte e surpreendidos pelo fatídico destino que os esperava no meio de um bosque italiano, os protagonistas veem-se numa inesperada luta pela sobrevivência e pela constante dúvida de quem será o assassino.

É um livro cujo início não fazia prever um tamanho suspense. São dispendidas muitas páginas a dar-nos a conhecer o narrador, cujas maleitas, imaginadas ou não, e cujo feitio reservado, para dizer o mínimo, não faziam antever que se fosse meter numa aventura deste tipo. Essa parte é um pouco inacreditável até para o imenso talento de João Tordo. Ficamos (fiquei) um pouco de pé atrás com a incongruência, mesmo que tenhamos em consideração toda uma moral ligada ao ultrapassar dos nossos medos.

Mas adiante, que o que se veio a passar de seguida fez-me esquecer a anterior torcidela de nariz. Quando o livro se transforma num thriller, quando deixa para trás o contexto e o como, torna-se num suspense irrepreensível, com um ambiente de cortar à faca, com muitas perguntas requerendo respostas, que nos deixam agarrados e curiosos até à última página. As situações surpreendentes, os diálogos, os mistérios, até mesmo os sonhos que o narrador nos vai contando, contribuem para que este seja um dos melhores livros do género que já li escritos na língua de Camões.

É uma leitura fluída e arrepiante, que nos oferece um puro prazer de leitura que só um livro originalmente em português pode fazer.

O Bom Inverno
De: João Tordo
Ano: 2010
Editora: Dom Quixote
Páginas: 292

A nossa pontuação: ★★★★☆
Disponível no site Wook.

0 comentários:

Enviar um comentário